sábado, 26 de março de 2011

Após dois dias de congresso da Associação Nacional das Farmácias, o balanço não podia ser mais positivo. Pelo menos o meu. Houve de facto bons palestrantes e moderadores que falaram do que realmente importa. Do que realmente incomoda e preocupa a classe farmacêutica portuguesa - o seu futuro e a sua sustentabilidade. Tal como se disse durante o congresso, a indústria farmacêutica não pode ser a única a pagar a crise. Desde 2005 que assistimos a cortes atrás de cortes por parte do Estado. O utente vê cada vez menos direitos serem-lhe atribuídos, que são espelhados pelas constantes reduções nas comparticipações. Chegou-se a um ponto lastimável e preocupante, em que nas farmácias as pessoas optam por comprar apenas parte dos medicamentos que necessitam, pois de um lado da balança está a comida na mesa e do outro os fármacos que têm de tomar. Portanto, já é mais do que tempo para os senhores que estão no poder arregaçarem as mangas e arranjarem soluções para ultrapassar o problema. Porque se numa sociedade a saúde começa a deixar de ser um direito para qualquer cidadão, não andamos para a frente. Se não há garantia de anos de vida ganhos, o país não produz riqueza - é esta a grande entrave ao desenvolvimento dos países de terceiro mundo. Como é que é possível estarmos ainda a anos luz de implementar um sistema semelhante ao do Reino Unido ou ao da Finlândia, onde o Estado é o grande pilar da sustentabilidade das farmácias? Somos o quarto país da Europa cujas famílias são as que mais gastam do seu próprio bolso na farmácia. E a pergunta que se faz é: para quê tantos impostos se o cidadão não vê retorno no aperto do cinto? João Silveira, vice-presidente da Associação Nacional das Fármacias afirmou que trabalhar nas farmácias virou um Inferno. É triste ver uma classe tão nobre desmoralizada e aflita com esta condição decadente. É tempo dos governantes deste país aceitarem a ala farmacêutica como parte integrante do sistema nacional de saúde. Se não fossemos essenciais, não valeria a pena existirem quase 3000 farmácias espalhadas pelo país - bastava as caixas dos medicamentos serem enfiadas nas prateleiras dos supermercados.

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