terça-feira, 23 de agosto de 2011

Kit de sobrevivência a conversas de circunstância subordinadas ao tema "estás tão crescido"*

O grande lema mudam-se os tempos, mudam-se as vontades devia ser acompanhado por outro igualmente bom e que tanta falta faz: mudam-se os tempos, mudam-se as conversas de circunstância. Devia, mas até agora ainda não sucedeu. Isto porque o meu metro e oitenta e oito centímetros continuam a ser tema de conversa em encontros ocasionais. É certinho como o destino. Não é que a minha altura não me agrade, que não é mesmo esse o caso, até fiquei indignado quando reparei que me roubaram quatro centímetros no cartão do cidadão. É que se estou acompanhado pelos meus avós e lá vem o primo em quarto grau que vi três vezes na vida ou o senhor Manuel que trabalhou há trinta e cinco anos com eles, ou se acompanhado com os meus pais e aparece a amiga do antigo trabalho ou a tia afastada, o meu cérebro entra em modo automático, coordena-se sozinho e fica pronto para me obrigar a esboçar o meu melhor sorriso amarelo (sim, porque nesta categoria há um para cada situação) logo após o assunto "altura do rapaz" vir à baila. Acreditem que já tenho um mestrado em conversas de circunstância sobre a minha altura, uma pós-graduação em lidar com o espanto das pessoas (como se eu competisse em altura com um arranha-céus) e uma especialização no belo do sorriso amarelo (são muitos anos de treino). Perante estas interessantes situações já vou dando por mim a apostar comigo mesmo quantos segundos faltam até a pessoa se exaltar com todo este comprimento, nunca antes visto e digno de registo. Como é do senso comum, o homem português mede em média 1,47m e não me cabe a mim outra coisa se não ser paciente e deixar que admirem e me mirem esta medida escandalosa que o meu corpo abarca. E é por isso que vou sorrindo e balbuciando uns disparates, para não fugir muito do contexto da conversa, evitando que a ironia tome conta da situação e me saiam da boca autênticas pérolas. Mas como toda a gente sabe, de pár-lá-piês que não interessam ao menino Jesus está o Inferno (e eu) cheio deles, acho que está na altura de me divertir mais com a situação. É certo que ultrapassarei o limite do desagradável, mas, assim à primeira vista, este género de conversa também não me agrada nada e, portanto, ficarei em pé de igualdade com quem daqui para a frente se atrever a tocar no assunto. Ficam aqui alguns modelos de corta-conversa para quem sofre do mesmo mal. Usem e abusem, sem medos:

PATETA (Pessoa Aterrorizada com Toda Esta Tamanha Altura): Ai estás tão grande! A última vez que eu te vi eras tão pequenino!
Eu: Pois, é normal, a última vez que me viu eu tinha uns quatro anos, acha que ia ficar a medir um metro para o resto da vida?

PATETA: Estás tão crescido rapaz!
Eu: O mesmo não posso dizer de si, não é verdade?

PATETA: Os teus pais meteram-te adubo nos pés, foi? (Esta é das minhas preferidas)
Eu: Não, meteram uma coisa mais orgânica e natural - o estrume de vaca.

PATETA: Quando é que páras de crescer rapaz?
Eu: Não sei, os gigantes como eu estão em constante crescimento. Para já o meu objectivo são os três metro e meio, depois logo se vê.

PATETA: Não jogas basquete? Com essa altura era o que devias fazer!
Eu: E porque é que você não se cala? Com essa parvoíce toda é o melhor que tem a fazer.

PATETA: Tu nem sequer deves caber na cama!
Eu: Oh, não se preocupe. Desde os 14 anos que durmo de pé, já me habituei.


*Depois não me agradeçam... a ver se vos continuo a safar!

3 comentários:

Ísis disse...

looooooooooooooooooool

Heriwen disse...

No meu caso, face aos modestos 159 cm, o tema não é a altura. Mas haverá sempre motivos para a bela conversa de circunstância! E um respectivo par de sorrisos amarelos a acompanhar.

Adorei o post, está brilhante!

Ice Cream disse...

BRUTAL!!! A minha altura não é nada de extraordinário mas também costumo ouvir comentários sobre ela, se calhar um dia respondo algumas destas coisas... São mesmo demais! xD