segunda-feira, 27 de junho de 2011

Não gostava de ser figura pública. Preservo muito a minha privacidade, só exponho a minha vida até onde quero. Para mim seria impensável ter gente a vasculhar o meu passado, ter sempre alguém a vigiar-me os passos e a fotografar-me. Fosse num jantar muito romântico ou numa simples ida às compras, que nisto a imprensa cor-de-rosa não faz distinção. Para mim a fama só tem um lado bom: a pessoa ser reconhecida pelo seu talento. E por talento não me refiro a ter jeito para ir a festas e abanar bem as ancas. Refiro-me a talento no teatro, no cinema, na escrita, no desenho, na arte em geral. Mas não sei se essa parte boa é assim tão boa que compense o outro lado mais negro. É que quem não tem cabecinha e maturidade suficiente para gerir bem a exposição pública, é endrominado em três tempos. É muito giro fazer capas de revista, ser sempre o mais cool e estar em todo o lado e em tudo o que é festa. Mas depois isso tem um preço a pagar - a perda da privacidade. As pessoas habituam-se e acham-se no direito de saber tudo da vida das celebridades. E depois, quando acontecem casos como o do Angélico Vieira em que muito se especula, a situação é explorada ao máximo. São as pessoas que querem saber o que aconteceu e são as redacções que, sedentas, disparam notícias a toda a hora, sendo que muita pouca verdade é dita.
Também há outra coisa que me faz muita confusão em Portugal. Porque é que uma figura pública é vista como um Deus, que nunca erra e nunca merece nada de mal? É que notícias como estas surgem todos os dias e não vejo ninguém a ter pena do rapaz que ia a conduzir e cujo amigo morreu devido à sua má condução. Condenamos tanto as asneiras que o comum dos mortais praticam, como, por exemplo, não usar cinto de segurança e conduzir com excesso de velocidade, há tanta revolta e tanta campanha para combater isso, e depois é só preciso que seja uma pessoa conhecida a cometer essas ilegalidades que tudo é esquecido. O importante é que fique bem, isso do cinto de segurança é só um pormenorzinho, coitado, de certeza que o cinto o estava a incomodar. Olha... à conta dele, um rapaz morreu e uma rapariga também não está nada bem, mas pronto, são vicissitudes da vida, o importante é que ele esteja bem. Eu imagino se não passasse de um desconhecido: o caso era mais um que figurava na terceira página do Correio da Manhã, e as pessoas mais próximas culpariam o condutor por imprudência e lamentariam a morte do rapaz que ia à boleia. Mas não, neste país figura pública é sinónimo de santo. E se são estes os exemplos que temos, fico muito mais descansado, não haja dúvida!

3 comentários:

Roxanne disse...

pelo contrário, mas as ditas figuras publicas tem um complexo qualquer de super herois ou as chamadas birras de meninos mimados que correm mal. so isso!

Ice Cream disse...

Concordo, se não fosse figura publica não havia tanto mediatismo. E ao que parece são demasiado bons para respeitar as regras de segurança porque até agora não ouvi ninguém dizer que ele devia ter usado o cinto ou controlado melhor a sua velocidade e se fosse uma qualquer pessoa do povo já estavam a dizer isso da forma mais seca e insensível.

Anónimo disse...

Gosto muito, concordo plenamente com este texto. As pessoas ainda precisam de aprender muitas coisas.