segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sobre a (in)diferença

Quando vejo alguém com uma deficiência, seja ela física ou mental, tento agir naturalmente e contrariar a tendência que se tem nessas alturas em olhar para a pessoa. No fundo, comporto-me normalmente como se a pessoa fosse igual a mim, como se não tivesse uma única característica que a torna-se diferente aos olhos da sociedade e aos meus. E faço isto, porque tento colocar-me no outro lugar e acabo sempre por chegar à mesma conclusão. Se fosse eu a estar numa cadeira de rodas, ou o portador de trissomia 21 ou se apresentasse falta de cabelo devido aos tratamentos de quimioterapia não queria ser olhado constantemente como uma aberração ou, simplesmente, não queria ser o alvo de olhares curiosos e de comentários piedosos. A reacção natural, e acredito que desprovida de qualquer maldade, das pessoas, em geral, é olharem e terem pena. E, pior do que isso, é demonstrarem esse sentimento e, muitas vezes, lamentarem-se em voz alta. "Coitadadinho". "Olhem-me para aquela desgraça". E é isso que deve ser combatido e alterado. Porque por mais impacitadas que essas pessoas possam estar, por mais diferenças que possam ter do resto da sociedade, elas têm uma coisa comum a todos nós: sentimentos. E tenho a certeza que todas as essas pessoas entendem os olhares de pena e os comentários, tal como tenho a certeza que não devem gostar disso. E é por tudo isto que eu adopto esta atitude. Não é uma questão de ser indiferente, mas sim de não contribuir para a (já tão grande) diferença que todos os dias essas pessoas sentem na pele.

5 comentários:

Marta K disse...

Acho que essa é uma atitude que deveria ser especialmente incutida às pessoas que andam maioritariamente de transportes públicos que insistem em ficar a olhar fixamente quando alguém que aparenta ter uma deficiência se senta ou quando temos de esperar um pouco mais porque alguém de cadeira de rodas precisa de apanhar o autocarro. É mau para eles todos aqueles olhares porque mais de metade não para ajudar no momento, são simplesmente olhares de pena como dizes.
E sim, o problema principal é que (quase) ninguém se coloca no lugar deles, daí as reacções estúpidas quando na presença deles. Só há uma coisa a saber nisto.. eles são pessoas, como nós!

S* disse...

Eu até me esforço para ser mesmo indiferente... não gosto que as pessoas se sintam diferentes.

Roxanne disse...

quando muito pergunto, em algumas situações, se precisam de ajuda... às vezes aceitam e agradecem... mas como frequento o hospital diariamente não estranho tanto como algumas pessoas!

Unknown disse...

Adorei o que li, e espero que muitas mais pessoas pensem o mesmo! O meu irmão tem trissomia 21 e como se deve imaginar ele não ligaa minimamente se olham p ele ou não, ele vive no mundo perfeito dele, porque nem se quer tem consciencia que pode haver pessoas más... sinceramente odeio, e fico até com raiva quando o olham e para nós tipo "coitadinha daquela familia".. quem o diz, não sabe simplesmente como é viver com uma pessoa com trissomia 21, nem sequer se dão ao "luxo" de os conhecer! ;)
Acho que todos deveriam convivar mais com as diferenças desde miúdos, para agir normalmente com todas as diferenças que existem... :)

Filipe Ribeiro disse...

Exacto, é a atitude que eu tenho. Numa escala muito menor em relação à trissomia 21, eu já senti na pele o que é ser olhado! Sim, quando era adolescente tinha a cara com muitas borbulhas, mas muitas mesmo...então eu reparava que as pessoas olhavam muito para mim..."coitadinho do rapaz,cheio de borbulhas,não arranja namorada assim". E as pessoas sentem quando estão a falar delas, eu sentia...e eu só queria ser como os outros miudos...normal! As borbulhas passaram com a idade...agora sou normal...e quando vejo alguém com deficiência, tenho uma atitude completamente normal. E é assim que as pessoas "não normais" querem que seja.