terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sobre o caso que chocou a opinão pública

Também a mim me chocou o caso que abalou a opinião pública. Também eu fiquei surpreso ao ler a primeira notícia. Fiquei incrédulo pela descrição do crime. E sim, chamou-me mais à atenção por se tratar de uma figura pública. Se a notícia não fosse sobre alguém que só por si já confere mediatismo à coisa, possivelmente passava-me ao lado. Além de todo o contexto macabro que envolve a situação, o que me choca também são determinadas reacções à volta do assunto. Vejamos:

Morre um ser humano e os portais de notícias enchem-se de comentários mal intencionados do género "é bem feita, era um paneleiro, merece estar morto". É este o retrato da nossa sociedade. Uma sociedade que se rege pela intolerância, pela frieza e pela falta de sensibilidade. Pelos vistos tolera-se melhor um homicídio com pormenores dantescos que a homossexualidade. E ainda quem sai vitorioso do crime é o assassino. Grande herói que deu a conhecer Portugal ao mundo. Triste. Muito triste.

Depois também não percebo a indignação de algumas pessoas em relação à exploração desta história nos media. Que os meios de comunicação passam metade do tempo a falar do assunto é verdade. Mas esquecem-se que toda a sociedade comenta e quer saber pormenores. Ainda há quem defenda que um assunto tão sensível como este não devia ser tão exposto. Mas essas pessoas esquecem-se que se trata de Carlos Castro, um homem que fez da vida dos outros notícia (e muitas vezes também escárnio e mal dizer). Este desfecho trágico acaba até por ser irónico.

Os amigos mais chegados da vítima referem-se a Renato Seabra como o companheiro actual de Carlos Castro, referindo que a relação entre ambos já durava há alguns meses, que viajavam juntos para vários sítios e que Carlos Castro suportava todas as despesas. Já os amigos e familiares do homicida fazem sempre questão de salientar que a relação era apenas de amizade. Pois bem, eu acho que não se trata de uma coisa nem de outra. É puro oportunismo. De ambas as partes. Sendo que me choca muito como é que alguém é capaz de manter uma relação nestas condições com o intuito de subir na vida, entenda-se por isso, ganhar posição social e arranjar trabalho.

Não percebo porque é que as pessoas não se resguardam nestas situações e, em vez disso, até se pelam para aparecer à frente de uma câmara. Mesmo que o discurso seja "era uma jóia de moço, nunca o via a fazer aquilo" (pois... se alguém desconfiasse secalhar estava internado) ou, pior ainda, "se realmente foi ele que cometeu o homicídio de certeza que estava sobre o efeito de alguma substância". A mim parece que pessoas que pensam assim é que estão sobre o efeito de uma qualquer substância. Uma substância muito forte e vitalícia, por sinal. Como se alguma coisa justifique um crime tão horrendo. Como se não houvesse outra maneira de se fazer justiça, se é que havia algo em dívida. Mas mesmo que houvesse alguma justiça por se fazer, existem outros meios de a conseguir. E de não lixar a própria vida, nem a dos outros.

3 comentários:

Cherry disse...

É certo e sabido que muito boa gente que por aí anda ainda pensa que a homossexualidade é uma doença do diabo e que se cura com medicamentos ou com consultas no psicólogo, tal como também há quem pense que a homossexualidade aparece como sendo um efeito secundário de qualquer medicamento (como a minha avó) e quanto a esse tipo de pessoas nada há a acrescentar a não o facto de continuarem a ser uns grandes ignorantes.
Quanto aos media são uns chatos do caraças que exploram até dizer chega uma noticia sem acrescentarem grande coisa na maioria das vezes. Não acho mal que falem do assunto, mas incomoda-se que passem noticias repetidas durante os primeiros 10 minutos de noticiário apenas acrescentado uma ou duas noticias novas acerca de tal assunto.
Se o outro rapazinho era gay ou não tanto me faz assim como também tanto me faz a opinião que tinham dele porque é óbvio que amigos e familiares jamais iriam dizer 'ah sim, claro que sim... Eu sempre desconfiei que ele em certas alturas se tornava bastante violento e que isso um dia poderia acabar como acabou e bla bla bla', mas o facto é que o crime se deu e não foi um crime simples em que a vitima apenas levou um tiro e já está. Foi um crime macabro e ponto. E se realmente foi esse Renato que o cometeu (visto que parece que já confessou o homicídio) então espero que apodreça na prisão.

S* disse...

Alguns assuntos deviam ser tratados com muito cuidado... parece-me altamente desnecessário revelarem detalhes tão sórdidos como o saca rolhas...

Gante disse...

Tenho um cá em casa que também faz questão de mostrar que é ignorante e preconceituoso: "enfim, um puto de 20 anos estragou a sua vida por causa de um gay", e culpa o Carlos Castro de ter estragado a vida ao jovem. Sad but true.